Newman Schutze - A Pintura e seus mistérios
- Sergio Gonçalves Galeria
- 22 de abr.
- 3 min de leitura
A arte é uma ponte
Nesses tempos distópicos nos quais antigos fantasmas parecem envolver o mundo e apavorar aqueles que conheceram o arbítrio e a dominação, pintar é, antes de tudo, um ato de resistência e paixão. Em toda a diversidade de seus métodos e processos, a pintura, assim como o teatro, não se realiza no terreno da virtualidade. Ela é matéria, gesto, cor, espaço e terreno da construção humana. Ao longo dos séculos a pintura retratou e recriou o mundo com suas mazelas e encantos e hoje, mais do que nunca, ela se faz necessária para recuperar a essência criativa do ser humano.
Em plena gritaria, no meio de vozes dissonantes, pautas identitárias necessárias, distúrbios teóricos, paradoxos filosóficos e determinações antropológicas a pintura de Newman Schutze se impõe pelo silêncio e elegância das coisas eternas. Há nela, como fundamento, a definição de uma clareza gráfica/estrutural que conduz o olhar do espectador para o território do equilíbrio, da sutileza e do método construtivo. Aqui, a disciplina rege a composição e o resultado é fruto de um processo elaborado no qual o movimento, o cromatismo, a sensível equação tempo e espaço se aliam a algumas reminiscências de paisagem para nos apresentar uma obra que nunca se esgota no primeiro olhar. As pinturas do artista combatem vigorosamente o olhar apressado; elas são um convite para a descoberta de belezas silenciosas e profundas.
Na interseção do gesto e da figura, as paisagens surgem como elementos poéticos e de forte apelo visual. Elas são fragmentos da realidade envolvidas numa aura de mistério e nos remetem a antigas lembranças de um mundo perdido, mas que, com a força da arte, pode ser recuperado. Os tons pastéis sugerem véus e mistérios e convidam o olhar sensível a descobrir novas belezas e encantamentos. Trata-se de uma obra cuja densidade é fruto de um trabalho árduo e persistente. Ao artista não lhe interessam os rótulos e os estilos tradicionais pois ele sabe que a arte é antes de tudo uma ponte, um caminho. A sua maturidade permite-lhe tangenciar várias escolas e vários saberes da arte. Sua inquietude encontra morada na essência, no coração do homem que lhe assegura o direito de construir e transformar. Em seu grande mistério, a arte nos ensina que o conhecimento, o talento e a resiliência, como no caso das pinturas de Newman Schutze, formulam a receita principal de uma arte atemporal e eterna.
Marcus de Lontra CostaRio de Janeiro, março de 2025
Buscamos na vida tranquilidade, sentirmo-nos inseridos nas amarras do universo social nos acalma, nos traz segurança a percepção do “mesmo”, do igual no dia-a-dia. A visão do “normal” nos assegura de nós mesmos. Mas para tal essa força retirada do convívio no nosso cotidiano mascara nossa percepção mais profunda.
Grande parte de nossa sensibilidade é engolida pela necessidade da tranquilização da “visão do mesmo”. Somos seres sociais.
Na vivência psicótica não é guardada uma relação de coerência como nós a entendemos no grupo social. A escolha de um título por uma pessoa imersa na psicose atribui uma outra visão de mundo.
Na psicose a narrativa de uma pintura permite um protagonismo maior às sensações primeiras transmitidas pela tela do que por uma visão racional imediata. Nesta condição tem-se o tecido da percepção do cotidiano, banhada pela racionalidade, rompido. Emerge assim novidades de forma inquietante, por vezes assustadoras, mas incomuns e surpreendentes.
Dr. Ernindo Sacomani Jr.
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